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Telemedicina na casa conectada

A medicina remota possibilita que vários dos aspectos da automação, antes ligados a conforto, sejam utilizados para prevenir doenças e auxiliar no tratamento domiciliar de pacientes

A casa conectada tem sido explorada como processo auxiliar da manutenção da saúde de idosos, medicina populacional e programas de bem-estar como forma de favorecer a longevidade. Esta prática fortalece a capacidade de tratamentos domiciliares de pacientes e aumenta o poder de alcance diagnóstico dos médicos.

Saúde na casa conectada é mais um dos argumentos positivos do lar inteligente, pois permite o acompanhamento contínuo dos indivíduos em seus programas de manutenção da saúde. Residências que dispõem de conectividade possuem melhores condições de climatização, controle luminotécnico e segurança, itens que são auxiliares em tratamentos de diversas enfermidades, como insônia, hipertensão e doenças mentais.

O Tele Health, ou Tele Saúde, é atribuído a várias verticais de saúde à distância, sejam elas síncronas ou assíncronas, como Tele laudo, Tele enfermagem, Tele orientação, Tele consulta, Tele consulta especializada, Tele monitoramento, Tele farmacêutico e Tele UTI.

A comodidade proporcionada por um tratamento domiciliar eficiente, a independência do usuário com sua própria rotina de manutenção da saúde e a liberdade de parentes e cuidadores trazem ótimos resultados. “A saúde não deve ser lembrada somente no momento de enfermidade, mas estar presente como um ato contínuo de boas práticas, monitoramento, rapidez de diagnósticos e condições de tratamento. Todas estas ações podem ser executadas com perfeição em uma casa inteligente”, declara Luis Gustavo Ferreira Costa, projetista industrial e CTO da empresa AMD Global Telemedicina – Brasil


Luis Gustavo Ferreira Costa, CTO da AMD Global Telemedicina – Brasil

Globalmente, durante a pandemia, o número de consultas virtuais alcançou até 35% das demandas; hoje, com a reabertura das economias, as consultas virtuais estão novamente no patamar ante pandemia, de 8% a 12%. Especificamente no Brasil, 100% das vídeo consultas são feitas em aplicativos em celulares e computadores.

Costa explica que, hoje, no País, as tele consultas são totalmente baseadas em aplicativos gratuitos em salas públicas, muito longe das necessidades de segurança impostas em países regulados. “A tele consulta não deve ser considerada um ato reativo, e sim preventivo, porque sua maior destinação é a prevenção e conservação da saúde”.

O recurso da tele consulta viabiliza o atendimento a pacientes crônicos, por meio do qual o médico, após a consulta e diagnóstico por áudio e vídeo, consegue submeter, digitalmente, a prescrição com os medicamentos ou solicitar novos exames se necessário.

“A Tele Saúde é uma forma de eliminar o tempo e os gastos de uma viagem até um especialista ou pronto-socorro, podendo o médico fazer um diagnóstico em casos mais simples e, em um mais complexo, pedir mais exames ou encaminhar o paciente a uma segunda tele consulta com um especialista. O conceito visa tornar a saúde mais acessível, barata, rápida, eficiente e, dessa forma, melhorar a experiência e a jornada do paciente”, declara Immo Oliver Paul, administrador de empresas, advogado e CEO da Carenet Longevity, empresa de Internet das Coisas Médicas (IoMT) no Brasil.



No exterior, existem muitas outras modalidades de consultas e serviços virtuais, tais como Medicina Remota Instrumentada, RPM e Clínicas Digitais em Farmácias.

Tradicionalmente, a medicina presencial dispõe de condições técnicas para a execução de exames fisiológicos, laboratoriais e físicos, que auxiliam o médico no diagnóstico e seu tratamento. No entanto, as tecnologias atuais já possibilitam que grande parte de exames destinados à saúde primária ou especializada de baixa criticidade sejam feitos à distância. “A Telemedicina não instrumentada consegue, em média, de 60% a 65% de efetividade e, quando instrumentada, pode alcançar índices de sucesso superiores a 80% de resolutividade diagnóstica, ampliando enormemente as possibilidades de tratamento domiciliar”, afirma Costa.

Digitalização da saúde

A saúde está sendo descentralizada gradualmente, o que permite seu acesso a qualquer pessoa, a qualquer hora e lugar. Saúde digital é uma convergência entre saúde e tecnologia e, portanto, é necessário entendimento de ambos os lados para que haja êxito nos processos.

Inúmeras são as inovações tecnológicas que têm surgido no ramo de Telemedicina, tais como Big data, visão computacional com sensores tridimensionais do tipo LiDAR, reconhecimento facial, entre outras.

Considerando que todas as tecnologias geram dados contínuos dos pacientes que são alimentados automaticamente por automação, wearables/IoT ou manualmente pelos clientes, a inteligência artificial pode trabalhar em várias frentes, como Triagem de paciente, Análise de imagens, Análise comportamental e Análise de resultados de laboratório. Qualquer parâmetro pode ser considerado evidência clínica e, quando todos estes dados são colocados juntos, pode-se ter conclusões diagnósticas bem mais precisas.

Diversos casos de saúde primária podem ser resolvidos por um clínico geral, sem precisar envolver um especialista, e é justamente esse envolvimento do especialista que geralmente eleva os custos dos processos.

A Internet das Coisas (IoT) ou Internet das Coisas Médicas (IoMT) é necessária para conectar os diferentes elementos e permitir o monitoramento remoto do paciente. Os sensores averiguam indicadores importantes relacionados à saúde e o IoT assegura que esses dados sejam digitalizados; uma vez digitalizados, podem ser enviados por Internet a qualquer pessoa.

Immo Paul explica que o aspecto importante do IoT é que ele permite a realização de uma consulta entre um paciente e um médico, sem que ambos estejam na mesma sala, por meio equipamentos e medição de sinais vitais. “A inteligência artificial entra nisso mais como uma ferramenta para processar ou analisar os dados digitalizados, como pressão, temperatura, oximetria, respiração, frequência cardíaca, identificar riscos e alertar o paciente. Acreditamos que, no futuro, a inteligência artificial faça esse processamento dos dados e se torne um sistema de apoio à decisão para o médico, auxiliando no diagnóstico”, revela.


Todos os equipamentos de automação são pontos positivos na cadeia de valor das casas inteligentes e cada dispositivo tem sua importância colaborativa. O projetista deve aprofundar-se nas necessidades atuais e futuras de cada cliente, criando um projeto humanizado e customizado. “É preciso pensar no indivíduo e na experiência do usuário em primeiro lugar, ter um plano detalhado de demandas atuais e futuras e uma boa comunicação unificada entre todos os colaboradores dos projetos, com uma consciência do mínimo, fazendo o máximo”, orienta Costa.


Uma forte tendência é o robô de telepresença, um produto de vínculo social, que certamente, no futuro, será um importante aliado ao paciente, uma vez que funciona com assistentes de voz que permitem customização das rotinas e emissão de alertas para consumo de medicamentos e de segurança.




Robô Astro, da Amazon, que faz a interface do usuário com o profissional de saúde. (Divulgação/Techtudo)

É importante ressaltar que a Telemedicina não funciona para todas as patologias, mas pode agregar grande valor ao acompanhamento de um paciente para resolver questões mais simples, como por exemplo, solicitar uma receita, uma prescrição, um medicamento ou outro exame. “A pessoa pode fazer uma consulta com seu médico em 10 minutos em vez de gastar 1 hora no trânsito ou horas no pronto-socorro ou na fila do consultório até ser atendida”, argumenta Immo Paul.

A Telemedicina é viabilizada hoje, principalmente, por meio do celular do paciente, sem equipamentos para monitoramento; contudo, essa prática ainda não é realidade no Brasil, mas sim uma visão. “É um processo, mas acredito que daqui a cinco ou dez anos, todos deverão usar a Telemedicina e ela será uma parte importante do atendimento e cuidado da população brasileira”, salienta Paul.

A infraestrutura necessária para a inclusão da Telemedicina em uma casa é simples, bastando contar com uma boa conexão Wi-Fi; celular com 4G ou 5G; iluminação branca fria – 6.500K (sem flicker); ar-condicionado com capacidade de limpeza de filtros; baixo ruído externo; conjunto de tomadas destinadas aos aparelhos acima das bancadas e criados-mudos.

Modelo de Rack para clínica digital.


O impasse da regulação

A regulação é o fator primordial para que a saúde domiciliar no Brasil seja predominante nos próximos anos. A Telemedicina mostrou-se necessária a todos em 45 dias após o início da pandemia por Covid-19, antecipando um planejamento previsto de mais de 10 anos de curva de aprendizado.

Para Costa, a mesma Lei que autoriza a Telemedicina provisoriamente no Brasil é a responsável pelo grande risco jurídico e insegurança de novos investimentos. “O Brasil necessita de uma regulação urgente, como já é feito em grande parte do mundo, incluindo países como Reino Unido, Estados Unidos, Austrália e Canadá, que possibilitaram expandir os serviços e suas boas práticas”, destaca.

Ele conta que, antecipadamente à votação definitiva da lei sobre Telemedicina, o CFM/ANVISA, que serão os órgãos reguladores no Brasil, já declararam proibição da Telemedicina para Medicina do Trabalho, proibição das interconsultas com médicos de outros estados e, brevemente, deverão estabelecer o valor das tele consultas com métricas de referência ao presencial. “Há, porém, uma pauta bastante preocupante em discussão: se a primeira consulta poderá ou não ser executada virtualmente, restringindo enormemente a prática de Telemedicina no Brasil”, observa.

A Medicina é altamente regulada pelo FDA/Anvisa e outras entidades de classe que inviabilizam que dispositivos médicos inteligentes possam ser registrados com agilidade. “Para se ter uma ideia, produtos wireless podem demorar até sete anos para obtenção de registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil. Existem diversos produtos destinados à Medicina Remota, que permitem alta capacidade diagnóstica pelos médicos e muitos necessitam ser reprojetados para as necessidades de regulamentação no País”, relata Costa.

Exemplo de produto multifuncional para Telemedicina.


Atualmente, no Brasil, existem mais de 400 empresas que oferecem Telemedicina, mas, com a nova regulação, pouco mais de 4% terão capacidade de adequação às necessidades junto à ANVISA. “O setor de tele consultas via app está em franca expansão, porque ainda é um campo pouco explorado e com grande potencial de crescimento, mas o risco jurídico e as regulamentações já impostas pelo CFM/ANVISA travaram o mercado de modo a todos estarem esperando o que vem pela frente”, enfatiza Costa, que não acredita que a Telemedicina no celular tipo app seja continuada com a nova regulamentação. “Como em todos os outros mercados já regulados, houve o downgrade destes apps para serviços administrativos, preventivos e de orientação, prevalecendo um modelo chamado Medicina Domiciliar Instrumentada Sob Demanda, onde auxiliares de enfermagem vão aos clientes conforme o agendamento”.

Neste sentido, outra possibilidade é a expansão das clínicas digitais em diversos pontos da cidade, incluindo ambulatórios dentro de condomínios de alta renda ou sêniores.

No exterior, com os condomínios 55+ “Senior Living” em alta, há uma enorme demanda de Medicina Domiciliar e ambulatórios do tipo Walk in sendo instalados próximos aos usuários, permitindo que toda a manutenção da saúde seja de fácil acesso.

Já no Brasil, existem alguns projetos iniciais de prédios destinados a sêniores, com ideia de implantação de ambulatórios equipados com clínicas digitais. “Que a regulação venha rápido, para que não fiquemos atrás da transformação global”, finaliza Costa.

Participe do Lar Inteligente 360º

O tema “Telemedicina e Saúde na Casa Conectada” será discutido no Lar Inteligente 360º, evento on-line que está sendo realizado de 14 a 28 de outubro de 2021.

Já em sua segunda edição, o encontro tem como público-alvo arquitetos, decoradores, designers de interiores, profissionais da construção civil, projetistas, lighting designers, influenciadores, especificadores, integradores, formadores de opinião, dentre outros.

As inscrições são gratuitas.

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